Bora vai para a Universidade

Amanhece uma bela segunda-feira de sol na Fazenda Sant'anna do Onça. Tudo é rotina. Cavalos adoram rotina. Derrepente surge um enorme caminhão. Bora é trazida. A rotina foi quebrada. Tensão no ar. Os outros cavalos observam em silencio de seus piquetes.

Bora, tendo desmamado seu potro Maestro (que agora tem quase 8 meses de idade), vai para um centro de treinamento no Rio de Janeiro onde será treinada para participar de provas na modalidade "Western".

Bora vai para a "Universidade"!

Para Bora, o que era uma manhã normal começa a parecer um pesadelo. O caminhão abre a rampa trazeira e Bora é conduzida para embarcar...mas...

Bora se recusa a entrar no caminhão. Varias pessoas tentam guia-la para dentro, inclusive eu. Tentamos falar com carinho e puxar devagar...gritar e puxar com força...não teve jeito, Bora não queria entrar. Mais de uma hora se passa. O caminhão tem que ir embora pois tem outros compromissos.

O que fazer?

Alguém sugere usar um chicote...mas eu prefiro tentar uma última alternativa: Um balde de ração mostrado a ela e jogado no fundo do caminhão.

Em 5 segundos Bora já estava dentro!

Agora é preciso ajeitar Bora dentro do caminhão. Ela parece não querer colaborar. Mas o motorista é experiente, trabalha a 20 anos transportando cavalos. Puxa daqui, empurra dalí e...

...pronto! Meio apertado, mas segura para suportar os solavancos da longa viajem que tem pela frente.

E lá se vai Bora, quase exatamente um ano depois de chegar a Sant'anna do Onça, grávida de seis meses. Aqui ela deu a luz a seu único filho, Maestro, e ganhou uma nova família...a minha família. Ela vai sozinha no caminhão. Deve estar apavorada. Mas nós sabemos que é para seu bem.

Cinco horas depois, quase escurecendo, Bora chega a seu destino: Um grande Haras nos arredores da cidade do Rio de Janeiro. Ela sai do caminhão visivelmente cançada, muito suada e com pânico no olhar.

Ela não sabe, mas o pior já passou. Agora é hora de relaxar e conhecer este local estranho.

Como vizinho de piquete Bora terá, por coincidência, um Mini-Poney com pelagem típica dos cavalos Appaloosa. Os dois logo fazem amizade. Ficam correndo pra lá e pra cá, cada um no seu lado da cerca. O gerente do haras me diz que ele é cavalo inteiro (não é castrado). No momento Bora não está no cio, mas fiquei preocupado. Quando ela estiver no cio posso imaginar o Poney se esgueirando por baixo da cerca e...

Bora em seu novo (e temporário) lar. Uma baia com serragem e feno, com piquete particular. A porta da baia fica sempre aberta, e ela poderá entrar e sair quando quiser. Na Fazenda Sant'anna do Onça Bora sempre viveu no pasto, ao ar livre. Será que ela vai gostar de usar a baia? Saberemos em breve, assim que a novidade virar rotina.

E assim deixei Bora; quase escurecendo, sozinha, num local novo. Fiquei com o coração apertado, mas tinha que ir embora. Aqui Bora vai primeiro passar por um treinamento básico de Rédeas, e em seguida ser iniciada nas modalidades de Três Tambores e Seis Balizas. Se demostrar habilidade talvez este local provisório se torne definitivo. Ficará aqui a maior parte do ano treinando e partindo daqui para competições em todo o Brasil junto com os outros cavalos do haras. Só retornará a Sant'anna do Onça na temporada de monta para ser doadora de embriões.

Ou talvez não. Talvez sua performance em competições seja medíocre, e daqui a tres meses Bora esteja de volta na Fazenda, servindo como reprodutora e levando as crianças para passear.

De qualquer forma o futuro já começou...

Bora já está na Universidade!